BIENAL

Por Carlos Eduardo Martins

O dicionário Michaelis define “Bienal”(do latim biennalis) enquanto adjetivo (simular, masculino ou feminino) como: “1. Que dura dois anos; 2. Relativo ao espaço de dois anos; 3. Que acontece ou se faz de dois em dois anos; 4. Que completa seu ciclo vegetativo num período de dois anos (diz-se de planta monocárpica)”. Enquanto substantivo (apenas feminino), o mesmo dicionário define nos seguintes termos: “Evento, em geral exposição internacional de arte, que se realiza a cada dois anos e é julgada por um comitê internacional: ‘– Aquele é o dr. Sérgio Milliet. Gosta de uísque assim. Aquele é o Ciccillo Matarazzo, o homem que protege os artistas e faz a Bienal. Ficou sem jeito para perguntar o que era Bienal. Com o tempo saberia. E tinha tempo para ter tempo’ (VASCONCELOS, José Mauro De. Rosinha, Minha Canoa: Romance em Compasso de Remo. 3 ed. São Paulo: Melhoramentos, 2011 rever forma de citar).1 Bienal, no contexto de eventos, é, portanto, qualquer evento que é realizado a cada dois anos.

No mundo das artes, as bienais são exposições de arte que reúnem obras e críticos de diversas partes do mundo. Na história da crítica das artes, as bienais desempenham um papel de grande importância. Guardada as devidas proporções, a origem das bienais nos remete aos Salões de exposição de artes da Academia Real de Pintores e Escultores, composta de grandes artistas franceses, que fora fundada em 1648. Os Salões, que tiveram início em 1737 como exposição ao público geral, tornaram a arte acessível ao grande público e passaram a estimular a produção artística.2 Contudo, sua periodicidade foi anual até 1751, quando passaram a ser bienais.3

Adentrando ao mundo da arte contemporânea, a Bienal mais antiga é a de Veneza, que é realizada desde 1895.4 Rever citação)

Imagem da primeira bienal de Veneza.

Em se tratando da Bienal de Veneza, Necca dispõe: “De forma muito vaga, podemos dizer que a Bienal é composta por: uma exposição principal no Padiglioni Centrale (Pavilhão Central); pavilhões organizados por dezenas de países; e exposições organizadas de forma independente marcadas pela Bienal como eventos colaterais oficiais.”5

Bienal de Veneza

Em que pese não se tratar propriamente de uma Bienal, vez que acontece a cada cinco anos, a “Documenta”, realizada em Kassel, Alemanha, também merece destaque por ser uma das exposições de arte moderna e contemporânea mais antigas.6

Imagem da documenta

No Brasil, figurando entre as grandes exposições, temos a Bienal Internacional de Arte de São Paulo (São Paulo Art Biennial), que é realizada desde 1951, contando com artistas brasileiros e estrangeiros.7 Fundada por Ciccillo Matarazzo e realizada no Pavilhão Ciccillo Matarazzo – pavilhão este projetado por Oscar Niemeyer e Hélio Uchôa -, localizado no Parque do Ibirapuera, tendo 30.00 m² de espaço expositivo, a Bienal Internacional de Arte de São Paulo é a segunda bienal mais antiga em vigor. Atualmente, a Bienal Internacional de Arte de São Paulo é administrada pela Fundação Bienal de São Paulo, criada em 1962.8

Imagem da Bienal de São Paulo

Nas décadas de 80 e 90, tivemos uma grande profusão de bienais ao redor do mundo, trazendo para a crítica da arte a oportunidade da análise de obras de autores provenientes de diversas culturas, dando ao mundo da crítica das artes as cores da globalização.

Segundo Kerr:

“Mas o impulso para a globalização no final dos anos 1980 e A década de 1990 logo resultou em um bando de eventos concorrentes. A Bienal de Istambul foi inaugurada em 1987, e logo foi seguida pela Trienal Ásia-Pacífico (em 1993), a Bienal de Gwangju na Coreia do Sul (em 1995) e a Bienal de Arte de Xangai (em 1996). Ao longo de uma década, o calendário do mundo da arte contemporânea ficou lotado, e críticos como Schjeldahl falaram de um espírito de festivalismo.”9

Em que pese as bienais já existentes antes, como a de Veneza e a de São Paulo, aqui mencionadas, o centro das artes contemporâneas ainda estava em Nova Iorque e Berlim. O surgimento de bienais ao redor do mundo tornou o mundo da crítica das artes menos centralizado, trazendo ao mesmo novas oportunidades.

“Por sua vez, a profusão de bienais provocou uma onda de globalização do mundo da arte. Como diria Julian Stallabrass mais tarde, em seu livro Contemporary Art: A Very Short Introduction, de 2004: ‘Os interesses de todos os corpos, privados e públicos, que compõem todas as alianças em torno das quais as bienais são formadas tendem a produzir uma arte que fala às preocupações internacionais’. Mas a nova lista de exposições internacionais também representou uma oportunidade real para a crítica, que passou a ter uma série regular de temas naturais e acesso inédito à obra de uma série de artistas internacionais. Consequentemente, um globalismo emergente logo caracterizou muita crítica de arte.”10

Não apenas às obras em si, mas a crítica pode ocupar-se da crítica institucional, trazendo à reflexão questionamentos quanto aos critérios das obras selecionadas para as exposições nas bienais, a estrutura e o cenário artístico de forma geral.

Ainda hoje, vive-se o reflexo da profusão de bienais, havendo diversas exposições ao redor do mundo, trazendo não apenas a descentralização da arte em relação aos antigos grandes centros, mas mesmo uma descentralização da crítica em relação aos grandes críticos que se tinha, bem como aos antigos veículos de crítica.11

Seria interessante dizer que existem outras bienais, colocar um numero estimado das que existem (tem no wikipedia, acho) e falar de algumas outras…

NOTAS

[1] BIENAL. In: Dicionário Michaelis Online. Disponível em <https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/bienal&gt;. Acesso em 08.06.2022.

[2] HOUSTON, Kerr. History of art criticismo. In: Introduction to Art Criticism, An: Histories, Strategies, Voices, Pearson; Maryland Institute College of Art, 2013, p. 26

[3] Ibid., p.29.

[4] Ibid., p.74.

[5] NECCA, Giovana. O que é a Bienal de Veneza? Plataforma Arte que Acontece, 2022. Disponível em <https://www.artequeacontece.com.br/o-que-e-a-bienal-de-veneza/&gt;. Acesso em 09.06.22.

[6] HOUSTON, Kerr. History of art criticismo. In: Introduction to Art Criticism, An: Histories, Strategies, Voices, Pearson; Maryland Institute College of Art, 2013, p. 76.

[7] Ibid., p.74-75.

[8] BIENNIAL FOUNDATION. Bienal De São Paulo. Disponível em <https://biennialfoundation.org/biennials/sao-paolo-biennial/&gt;. Acesso em 09.06.22.

[9] HOUSTON, Kerr. History of art criticismo. In: Introduction to Art Criticism, An: Histories, Strategies, Voices, Pearson; Maryland Institute College of Art, 2013, p. 76.

[10] Ibid.,p.75.

[10] Ibid.,p.75-80.

REFERÊNCIAS

BIENAL. In: Dicionário Michaelis Online. Disponível em <https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/bienal&gt;. Acesso em 08.06.2022.

BIENNIAL FOUNDATION. Bienal De São Paulo. Disponível em <https://biennialfoundation.org/biennials/sao-paolo-biennial/&gt;. Acesso em 09.06.22.

NECCA, Giovana. O que é a Bienal de Veneza? Plataforma Arte que Acontece, 2022. Disponível em <https://www.artequeacontece.com.br/o-que-e-a-bienal-de-veneza/&gt;. Acesso em 09.06.22.

HOUSTON, Kerr. History of art criticismo. In: Introduction to Art Criticism, An: Histories, Strategies, Voices, Pearson; Maryland Institute College of Art, 2013, pp. 23-81.

òtimo verbete….